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Sobre seres "humanos" e atitudes do ser...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Saga "topo gigio"

      Chamavamos de "topo gigio", na verdade, não sabiamos o seu nome mesmo, e ele se assemelhava bastante com o próprio. Gostava muito de ler livros, com  vampiros e seres fantásticos. Não sei se realmente lê todos aqueles livros ou só olha pras letras e rí. Passa três dias com um livro, suas leituras tem muitas pausas. Ele levanta, fica rodando, rodando e começa a rir... Roda novamente, coça a cabeça e rí. Senta, olha o livro e abre a boca, rí... Em noites de lançamento, todos notavam sua agitação, em sua face víamos um misto de preocupação e felicidade. Enquanto as bandejas fartas de salgados e refrigerantes passeavam no salão, via-se a água escorrer quase discretamente de sua boca... Com todo aquele queijo, pedindo para fazer parte de seu corpo rechonchudo e mórbido. Andava com desespero entre os convidados, pegando tudo que suas mão pudessem segurar, comia com avidez. Era incrível o quanto aquele garoto comia, em intervalos de tempo ele sumia e reaparecia. Alguns do lugar arriscavam: -"Ele foi ao banheiro vomitar para comer mais!" Era um garoto de aparência pobre. Um dia soube que era primo de uma garota que eu mesma conhecera, contaram-me que quando criança, sofreu um grave acidente de carro, e ficara daquela maneira. Nunca mais fora uma pessoa "normal". Dentro do conceito de normal, aquilo era tudo muito anormal, digo, as risadas, os comentários, as "bolinhas"... Então, o garoto, que sofreu grave acidente, gostava de livros e era uma pessoa com prováveis problemas mentais,era ridicularizado. sim, ridicularizado, por todas aquelas pessoas "normais". Mas ele, o "anormal" normalmente não falava das pessoas normais, nem as ridicularizava. Apenas vivia seu universo particular, indo quase todos os dias aquela grande livraria. Ia sempre, era a única condição que tinha, podia ao menos ler os livros. Ser humano, é isso! Ridicularizar pessoas? Ou ser humano é viver dentro de sí, sem incomodar outros? "Ser humano" e "normal",é ser maldoso?!

2 comentários:

  1. parabéns, Ruth. seu texto está belíssimo. você consegue fazê-lo de uma forma muito terna.
    conhecia esse seu lado escritor não!

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  2. Parabéns, Ruth! Faço minha as palavras de Lima sobre o teu texto... e sobre a tua veia de escritora! :-)

    Quem seriam os "normais"? Aqueles que se arrogavam o direito de desprezar, sentir nojo, ridicularizar ou simplesmente fingir ignorar, incomodados, um rapaz calmo e sorridente cujo único crime era gostar de livros? (Por sinal também me lembro muito bem dele, aliás me pergunto por onde andará já que nunca mais o vi por lá). E nós, somos "normais"? Não vivemos também mergulhados em nosso universo, escravos dos nossos medos e das nossas neuroses, perseguidos por nossos fantasmas e nossas obsessões, obcecados pelo passado e pelo futuro, esmagados pelas pressões e expectativas de uma sociedade que tornou a indiferença, o egoismo, o passar a perna por cima dos outros condições "normais" de existência e marginaliza quem se recusa e entrar nesses padrões? O que é a tal da "normalidade"? Será que ela existe? Não será, como já disse Caetano, que "de perto ninguém é normal"? Mas quem se atreve, hoje, a querer olhar realmente os outros de perto? Talvez as pessoas não o façam porque ficam com medo de (re)conhecer-se a si próprias...

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